O ministro Benedito Gonçalves votou pela inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL) por oito anos, mas optou por salvar o ex-candidato à vice-presidente, general Braga Netto. O relator da ação foi o primeiro a votar e afirmou que o ex-presidente é responsável integralmente pela reunião com embaixadores que ocorreu a 76 dias antes das eleições.
Os outros ministros estão previstos para votar na quinta-feira (29), às 9h.
“A prova produzida aponta para a conclusão que o primeiro investigado foi integral e pessoalmente responsável pela concepção intelectual do evento objeto desta ação.”
'Falsa simetria'
No seu voto, lido nesta terça (26), o relator rechaçou as teses da defesa de Bolsonaro. Entre elas, as comparações feitas entre a ação contra o ex-presidente e o caso da chapa Dilma-Temer.
Em 2017, o tribunal rejeitou a inclusão de novas provas na ação que investigava a chapa Dilma-Temer —bolsonaristas afirmam que o TSE estaria quebrando a própria juriprudência, já que aceitou a inclusão de novos documentos como a minuta golpista.
O ministro ainda classificou como "falsa simetria" outra comparação: da reunião de embaixadores com o encontro conduzido pelo então presidente do TSE, Edson Fachin, que convocou diplomatas e representantes estrangeiros.
Benedito afirmou também que a reunião de Bolsonaro foi transmitida pela TV Brasil — que é pública —, alcançando amplo público, o que poderia favorecer a campanha eleitoral.
O caráter eleitoreiro é apontado com a conexão da fala do primeiro investigado [Bolsonaro] e sua estratégia à campanha à reeleição."
Para a defesa, o encontro com diplomatas não poderia ser considerado eleitoral por não ter havido pedido de voto nem ter sido dirigida a eleitores em potenciais — uma vez que os embaixadores não votam nas eleições.
'Militar à frente das tropas'
O relator afirmou que Bolsonaro se viu como um "militar em exercício à frente das tropas", enquanto discursava contra as urnas eletrônicas para os embaixadores.
Benedito apontou que durante o discurso do ex-presidente havia um "preocupante descaso" com a "conquista democrática".
O discurso em diversos momentos insinua uma perturbadora interpretação das ideias de autoridade suprema do presidente da República, da defesa da pátria, da defesa da lei e da ordem."
'Minuta golpista em sua essência'
Benedito destacou que a adição da minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres no processo foi validada pelo plenário do TSE em fevereiro e que o documento tem relação com a gravidade dos fatos analisados.
A minuta já havia sido citada pelo ministro na semana passada durante a leitura do relatório. A defesa de Bolsonaro critica a inclusão do documento e alega que não há relação com o ex-presidente.
Já o PDT, autor da ação, afirma o material faz parte de um contexto maior, que demonstraria ações de teor golpistas conduzidas por Bolsonaro ao longo da campanha.
O ministro citou também as lives feitas pelo ex-presidente, afirmando que "existe um flerte perigoso com o golpismo".
Faltou ao ex-ministro da Justiça [Anderson Torres] designar a proposta de intervenção ao TSE sobre a forma de Estado de defesa pela forma que realmente era golpista em sua essência e perigosamente compatível com a lógica defendida pelo primeiro investigado na reunião com os chefes de missão diplomática em 2022."