Em linhas gerais, é possível dizer que o AUTISMO é uma condição que afeta o desenvolvimento neurológico e causa dificuldades na interação social, na comunicação e no comportamento, em diferentes níveis.

 

Ao contrário do que os estigmas afirmam, o transtorno do espectro autista não caracteriza uma doença, mas sim uma variação do funcionamento típico do cérebro.

 

Em adultos, autistas que não foram diagnosticados na infância, mas vivem muito perto do que é considerado “normal”, ou seja, trabalham, estudam, sempre viveram em uma classe regular e iniciaram uma família, os traços mais prováveis são aqueles que caracterizam a menor necessidade de suporte, o autismo nível um de suporte, popularmente denominado “autismo leve”.

 

Os sinais de autismo nível 01 de suporte em adultos tendem a ser mais presentes na interação e comunicação social do que no próprio desenvolvimento cognitivo, pois não há deficiência intelectual ou mental. Por esse motivo, pode ser muito difícil diagnosticar o autismo em adultos, sendo mais comum a busca pelo diagnóstico quando o adulto gera um filho com autismo e começa a reconhecer no filho algumas características próprias.

 

O autismo é um transtorno fortemente genético, com uma herdabilidade estimada de mais de 80%. Ou seja, quando um filho nasce autista existe quase 90% de chance de ao menos um dos pais ser autista (ou ter outro transtorno, como o TDAH por exemplo, que compartilha genes com o autismo).

 

Conheça alguns traços de autismo em adultos:

 

1- Dificuldade em lidar com os próprios sentimentos (frustração, medo, elogios);

Exemplos: enfrentam um sofrimento desproporcional quando não conseguem realizar o que projetaram e/ou ficam envergonhados quando alcançam uma vitória e são elogiadora.

 

2- Dificuldade em lidar com sentimentos alheios (muitas vezes sendo tidos como pessoas insensíveis e sem empatia);

Exemplo: autistas adultos têm dificuldade em perceber sinais de tristeza, raiva, tédio e até de alegria nos outros, a menos que sejam bastante óbvias.

 

3- Dificuldade para demonstrar ou receber afeto;

Exemplo: adultos autistas muitas vezes não conseguem expressar o quanto gostam de alguém e podem ter aversão ao toque (abraço ou contatos podem ser extremamente desagradáveis). 

No entanto, em determinadas pessoas, como a mãe, pai, filhos, amigos íntimos e namorados/esposos são mais tolerantes ao afeto, podendo ser muito afetuosos com pessoas bem específicas.

 

4- Preferem utilizar a linguagem direta e formal, o que faz com que às vezes sejam interpretados como extremamente sinceros, grosseiros ou insensíveis;

Exemplo: não escolhem meias palavras para informar uma demissão ou dar uma notícia de falecimento por exemplo.

 

5- Autistas adultos preferem trabalhar sozinhos do que em equipe, mesmo que isso lhe custe fazer mais que os outros;

Exemplo: em um local de trabalho coletivo ele prefere fica na mesa de canto ou em uma sala separada dos demais.

 

6- Dificuldade em sair da rotina e resistentes às mudanças;

 

7- Dificuldade para entender metáforas, ironias e piadas ambíguas ou com uma mensagem subliminar;

Exemplo: quando escuta um piada só consegue entender bem depois e as vezes até no dia(s) seguinte.

 

8- Hiperfoco em um tópico ou interesse específico;

Exemplo: gosta de um mesmo estilo de música e/ou artista, de um determinado assunto e/ou trabalho.

 

9- Sensibilidade superior ao barulho;

Exemplo: Alguns autistas adultos escutam e se incomodam com barulhos que são praticamente imperceptíveis para as pessoas neurotípicas (o cântico de um grilo, rangido de uma porta ou uma peça solta em um carro).

 

10- A seletividade alimentar também pode ser um sinal de autismo em adultos;

Exemplo: gosta de comer sempre a mesma coisa, até um dia que abusa e passa a comer outra, mas só essa outra. E não come todos os tipos de alimentos porque sente-se incomodado com alguma característica da comida.

 

11- Sensibilidade a cheiro, cores e textura;

Exemplo: Não gosta de bombril e/ou isopor; alguns tipos de tecidos e vestes lhe incomodam (a etiqueta da roupa). Quando vêm algumas cores sentem incômodo visual e alguns chegar a ficar tontos.

 

12 - Em geral, não compartilha seus sentimentos com facilidade, acabando por sofrer sozinhos;

 

13- Não se envolve com interesses alheios; prefere falar de poucos assuntos específicos e não percebem quando os outros não estão mais interessados.

 

14- As alterações sensoriais são frequentes como: hipersensibilidade a luz e ao toque, por vezes chegam a sentir tontura, náuseas e dor de cabeça;

 

15- Dificuldade em dizer o que sente e o que pensa, são tímidos, sentem dificuldades em tomar decisões, tendem procrastinar para fazer algo que não entendeu ou acham difícil e não gostam de falar ao telefone;

 

16- Respondem mentalmente à uma pergunta e esquece de responder em voz alta;

 

17- Se sentem incomodados em ficar olhando nos olhos dos outros;

 

18- Tendem a gostar de fazer as mesmas coisas;

 

19- Dificuldades com equilíbrio, sendo frequentemente chamados de desligados e considerados desajeitados e/ou estabanados;

 

20- Irritabilidade com sons altos demais;

 

21 - Baixo índice de atenção dividida, o que faz com que não consigam prestar atenção a duas coisas ao mesmo tempo;

Exemplo: Muitos autistas adultos pedem para a outra pessoa dar uma pausa para que ela termine o que está fazendo para ouvi-la depois.

 

22- Se estiver focado em alguma coisa, podem chegar a ignorar e/ou fingir que a outra pessoa não existe, sem que queiram fazer isso;

 

23- Ficam confusos quando lhes falam várias coisas ao mesmo tempo;

 

24- Enjoam em carros, elevadores e outros locais fechados.

 

Esses são alguns sinais indicativos de autismo, então, se um pessoa apresentar mais de 08 destes sinais é recomendável procurar um atendimento especializado e fazer uma consulta com um neurologista.

 

Muitas vezes sinais de autismo podem ser confundidos com ansiedade, depressão, TDAH, toc, bipolaridade e entre outros, mas o autismo pode estar lá.

 

O diagnóstico adulto pode ajudar a pessoa autista a se reconhecer, se aceitar, iniciar um tratamento e melhorar sua qualidade de vida. Chega de romantizar o sofrimento!

 

Elizângela Torres Corsino

Psicopedagoga Clínica 

Especialista em Autismo


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